Folclore vivo
O Rancho Folclórico Tradições Portuguesas é um grupo que existe para preservar e difundir os valores, a arte e a cultura de Portugal por meio da dança e da música, utilizando em suas apresentações utensílios e trajes típicos de diferentes regiões. Seu repertório inclui vários ritmos do folclore lusitano, com viras, chulas, rusgas, músicas tradicionais, romarias, canções de trabalho e de lazer dos povos campesinos, que se reuniam para festejar a boa colheita, para realizar ritos religiosos ou simplesmente celebrar a vida com a família e com os amigos.
Na Associação Luso Brasileira de Campo Grande, o grupo teve início no dia 25 de Novembro de 1978, e legalização com o estatuto no dia 16 de Abril de 1981, mas dessa época até hoje, não houve continuidade em sua formação. Na realidade, até mesmo a sua primeira criação pode ter acontecido bem antes. Em uma matéria escrita pelo jornalista Edson Carlos Contar conta-se que a artista portuguesa Conceição Ferreira chegou a fundar um Grupo Folclórico Português em Campo Grande em meados do século passado, tendo que reativá-lo depois. “Em um desses retornos, em 1950, percebendo que, em Campo Grande, não vigorara o Grupo Folclórico Português por ela criado, resolveu montar com jovens alunos do Colégio Estadual Campograndense, hoje Colégio Maria Constança de Barros Machado, outro grupo Folclórico e ainda fez mais 13 apresentações na cidade” diz a matéria. Nos anos sessenta, também houve atividade nos grupos. Em 65 é criado o Departamento de Jogos do Centro Beneficente Português, justamente em função do grande número de jovens que passa a frequentar a sede na Rua Barão do Rio Branco. “O Centro Português era um local onde nossos pais e avós se encontravam. Não havia atividades voltadas para as crianças e jovens, então pensamos em criar uma espécie de ‘Centro Português Mirim’, mas o senhor Veríssimo disse que ‘não poderia haver um clube dentro de outro’, assim, criamos um departamento de jogos. Depois dos ensaios tinham as brincadeiras dançantes”, relembra Antônio Leal, que na ocasião foi eleito o primeiro presidente do departamento de jogos. O departamento funcionava aos sábados, das 14h às 17h, aos domingos e feriados das 8h às 11h e das 13h às 16h e assim continuou até que se encerraram os ensaios do Rancho, em 1968, quando foi desativado. É provável que o que tenha acontecido é que os jovens que integravam a colônia portuguesa de Campo Grande tiveram que morar fora do estado por não haver universidades nessa região. Nos períodos em que não tinha grupo folclórico organizado, a colônia portuguesa buscava fora do estado sua representação artístico-cultural. Como Ledir Pedrosa conta no livro “Centro Beneficente Português, uma vida uma história”, no mês de agosto de 1970, um convite da prefeitura de Antônio Mendes Canale para participação nas festas de aniversário de Campo Grande fez com que a diretoria do Centro trouxesse de São Paulo o grupo folclórico “Aldeias de Portugal”. Curiosamente, a vinda deles foi significativa para Maria Licínia, filha do ex-presidente Antônio Veríssimo. Seu esposo, o atual cônsul honorário de Portugal em Campo Grande, Fernando Gonçalves, dançava no grupo e foi nesta ocasião que se conheceram. “Meu pai foi contratá-los lá em São Paulo em agosto de 1970, e Fernando veio com eles. Quase dois anos depois, em julho de 1972, nos casamos” lembra-se.
Os anos noventa também foram de ostracismo. O atual diretor cultural da Associação, Esmeraldo Alves do Nascimento, nem era membro da diretoria na época, mas sentiu necessidade de formar um grupo folclórico novamente, já que para as Festas das Nações organizadas pela prefeitura, como na década de setenta, a Associação Luso Brasileira tinha que trazer gente de fora para representar sua colônia. “Aquela última formação, no fim da década de setenta, foi interrompida após a morte de um integrante. Quando decidimos reunir todo mundo de novo foi muito difícil, até porque na mudança de sede do prédio da Rua Barão para o atual Clube Estoril muita coisa se perdeu. Fui atrás dos filhos do Zé Maria, da Fátima, do Toninho, para conseguir informações e figurinos. Queríamos reagrupar o pessoal, reorganizar a colônia portuguesa” relata. Sua persistência deu resultado. Era novembro de 99 quando começou sua busca e, em menos de um ano, já estavam prontos para apresentações. Nos primeiros ensaios, o próprio Antônio Leal, Maria de Fátima, Ana Lúcia Alves da Rocha e seus irmãos, filhos de José Maria, e outros membros dos antigos grupos participaram, até mesmo como forma de incentivar os mais novos a irem também. Esmeraldo ficou por sete anos na diretoria do Rancho, quando saiu para dar o lugar a outros diretores e retornar tempos depois. Atualmente o grupo está retornando as atividades e em busca de novos integrantes para uma nova formação.